Sunday, November 09, 2008

Madrasta/Mãe



Madrasta

─ Mamã, tu és trabalhona!

A mãe, furiosa, largou uma bofetada na filha:

─ Não se chama trapalhona à mãe, toma, que é para aprenderes!

A menina, com pouco mais de três anos, encolheu-se num canto a chorar, balbuciando timidamente:

─ Eu não disse trapalhona eu disse tra-ba-lhona, por andares sempre a trabalhar.

Caindo em si, arrependida, a mãe pediu desculpa à filha, mas o mal estava feito.

Porque cada um de nós é a memória acumulada das suas experiencias do passado, principalmente as da infância, seremos aquilo que tivermos vivido, para o bem e para o mal.


Mãe

─ Mamã, tu és trabalhona!

A mãe ficou surpreendidíssima quando a filha, um dia, lhe saiu com aquela exclamação.

De início entendeu «trapalhona», mas, antes de tomar uma atitude, manteve a calma e procurou esclarecer o motivo de a filha lhe chamar trapalhona, uma vez que não costumava usar de mentiras para a convencer de qualquer coisa. Por feitio e por princípio, achava que isso seria um mau precedente para a confiança futura e ela acabaria por descobrir a verdade, mais cedo ou mais tarde.

De repente, acudiu-lhe ao espírito que ela tinha aprendido a palavra nova na escola e que não lhe conhecia muito bem o significado, por isso não poderia ser ofensiva a intenção, mas apenas ensaio e aprendizagem.

Então decidiu perguntar-lhe porque lhe chamava trapalhona e ela respondeu:

─ Não é trapalhona é trabalhona. Tu fazes tudo aqui em casa e ainda trabalhas com a L (a colega de emprego da mãe) e tens pouco tempo para brincar comigo.

Ainda por cima, a menina tinha inventado uma palavra que não existia.

A mãe, de queixos caídos pela intervenção observadora da filhota que ainda nem tinha quatro anos, conseguiu dizer:

─ Pois é, B. e tu ajudas a mãe?

─ Ajudo! ─ foi a resposta imediata.

As crianças são surpreendentes e aquela é a fase em que querem saber tudo e em que os pais terão tanto a ensinar-lhes como a aprender com elas.

Depois a mãe ficou pensar: “Se eu tivesse reagido bruscamente pela suposta ofensa, teria sido péssimo e não sei como me perdoaria.”

Nunca devemos ser injustos com as crianças; elas têm o direito de ser ouvidas e esclarecidas se disserem algo de errado, porque, afinal, nada é maldade, mas apenas aprendizagem por tentativa e erro, e é a fase mais bela da vida.

Os pais não a devem perder e muito menos estragar com intervenções infelizes, tomadas intempestivamente. Elas confiam neles para as ajudarem a crescer livres e felizes e, quando essa confiança é, de algum modo, continuamente traída é que a «maldade» aparece.